Impactos Antrópicos
O impacto das atividades industriais e comerciais
Em virtude de suas mais diversas propriedades, a água tem uma gama bastante ampla de utilização no setor industrial: como matéria-prima básica na produção de bebidas e alimentos; como solvente de sólidos, líquidos e gases; como agente de resfriamento em operações envolvendo transmissão de calor; como agentes de aquecimento através do uso do vapor d’água ou de água quente; como veículo de material particulado em suspensão, etc.
Os principais segmentos industriais consumidores de água são as indústrias têxteis, os frigoríficos e abatedouros, curtumes, indústrias de alimentos, bebidas e cervejarias, os laticínios, usinas de açúcar e álcool, além das indústrias siderúrgicas, metalúrgicas e petroquímicas.
São raros os setores industriais que podem dispensar a água no decorrer do processo produtivo, como por exemplo, a fabricação de esponjas de lã de aço para limpeza doméstica. Mesmo neste caso, a água é imprescindível em setores de apoio tais como banheiros, vestiários, cozinha, restaurante e limpeza em geral das instalações, além da manutenção paisagística em jardins e áreas verdes.
A Tabela 3 abaixo exemplifica valores médios do consumo específico de água em alguns processos industriais, de acordo com a tipologia do empreendimento, podendo variar em função da tecnologia empregada (Setti et alli, 2000):
Tipo de indústria |
Consumo médio de água |
laminação de aço |
85 m3 por tonelada de aço |
refinaria de petróleo |
290 m3 por barril refinado |
indústria têxtil |
1.000 m3 por tonelada de tecido |
curtumes |
55 m3 por tonelada de couro |
papel e celulose |
250 m3 por tonelada de papel |
saboarias |
2 m3 por tonelada de sabão |
usinas de açúcar |
75 m3 por tonelada de açúcar |
conservas alimentícias |
20 m3 por tonelada de conserva |
laticínios |
2 m3 por tonelada de produto |
cervejarias |
20 m3 por m3 de cerveja |
matadouros |
3 m3 por animal abatido |
Consumo médio de água em processos industriais
Excetuando-se a parcela incluída como matéria-prima no produto final, além daquela perdida por evaporação nos processos de resfriamento ou a infiltrada no solo pela necessidade de umidificação de vias e pátios, a água utilizada na indústria sempre se transforma em um efluente, cuja qualidade e disposição pode representar um maior ou menor impacto no meio ambiente e, conseqüentemente, na água subterrânea.
A tipologia do empreendimento pode definir, de maneira genérica, a carga contaminante do efluente: é mais coerente um abatedouro produzir um efluente carregado de matéria e nutrientes orgânicos, bactérias e microorganismos, do que outro, contendo ácidos e metais pesados, condição esta possível em se tratando de uma galvanoplastia. A correta disposição dos efluentes industriais nos cursos d’água, dentro das concentrações máximas permitidas pela legislação ambiental, evita, a jusante do ponto de lançamento, a ocorrência de poluição dos aqüíferos, onde o curso d’água lhes serve como recarga.Entretanto, o tratamento prévio dos efluentes – seja para lançamento ou para reúso no próprio empreendimento – deve se cercar de todas as precauções necessárias, principalmente se tal processo inclui lagoas de estabilização ou de decantação, para que estas etapas não se transformem em origem de poluição ou contaminação pontual de aqüíferos, tanto os de subsuperfície quanto os mais profundos.
A par de toda a poluição que possa ser gerada pelos efluentes de um empreendimento industrial, cujos agentes se encontram dissolvidos ou em suspensão no meio aquoso, especial atenção merece o manejo e a disposição dos resíduos sólidos. Não pode ser descartada a possibilidade de dissolução destes sólidos pela água, solvente universal, proveniente de chuvas ou aspersão, sejam eles resíduos, rejeitos, matéria-prima ou até produtos acabados, quando estocados a céu aberto e diretamente sobre a superfície do solo.
Atualmente a maioria dos empreendimentos industriais, tanto os situados nos zoneamentos específicos quanto os localizados nas zonas mais urbanizadas, faz uso da água subterrânea, seja por economia – mais barata que aquela água fornecida pela concessionária – seja por estratégia empresarial ou seja por necessidade do processo – uma água sem cloro, por exemplo. A explotação de um aqüífero através de poço situado, óbvio, dentro do terreno do empreendimento, cria linhas de fluxo convergentes a este poço, o que certamente vai induzir a penetração dos agentes poluentes a uma velocidade maior, em virtude do gradiente hidráulico gerado pelo cone de depressão.
Para os técnicos mais atentos que lidam usualmente com a construção e manutenção de poços em indústrias, em especial as plantas mais antigas, esta não é, infelizmente, uma situação incomum: o empreendedor detectar uma alteração na qualidade da água subterrânea explotada no próprio poço, causada pelo manejo e disposição incorretos de resíduos gerados dentro do empreendimento – caso em que o feitiço vira contra o feiticeiro. Nas grandes regiões metropolitanas existem certamente inúmeras áreas contaminadas por produtos químicos de longa persistência no meio ambiente e alto risco à saúde humana, impróprias para moradia, uso agrícola ou comercial, e decorrentes de instalações industriais obsoletas e abandonadas, aterros e depósitos irregulares de resíduos tóxicos.
Não exatamente um setor industrial, mas comercial, contribui também para a contaminação de aqüíferos, principalmente na zona urbana, onde se concentra o maior número de seus estabelecimentos: a estocagem e a distribuição de combustíveis, através dos postos de gasolina.
Em geral, um posto de gasolina armazena milhares de litros de combustível em tanques metálicos enterrados no subsolo, depósitos estes que ao longo do tempo estão sujeitos ao desenvolvimento de pontos de corrosão, responsáveis pelo vazamento do conteúdo. O desconhecimento de normas de segurança, aliado ao manuseio incorreto de equipamentos nas operações de carga e descarga, também contribui para o vazamento de combustíveis, que comumente são a gasolina, o óleo diesel e o álcool.
Dentre os três citados, a gasolina apresenta o maior potencial contaminante, tanto pela baixa viscosidade que facilita sua percolação pelas formações do subsolo quanto pela alta toxicidade de seus componentes. A gasolina é uma complexa mistura de centenas de hidrocarbonetos aromáticos, olefínicos e saturados e, em menor quantidade, por substâncias cuja fórmula química contém átomos de enxofre, nitrogênio, metais, oxigênio, etc. Os hidrocarbonetos são mais leves que os do diesel, posto que formados por moléculas de menor cadeia carbônica (normalmente cadeias de 3 a 12 átomos de carbono), e provenientes de uma faixa da destilação do petróleo. Os compostos denominados BTEX são os mais perigosos e solúveis da gasolina: benzeno, tolueno, etilbenzenos e os isômeros do xileno. Contudo, exaustivas pesquisas já demonstraram que estes compostos sofrem uma atenuação natural e que a fase dissolvida não se estende por distâncias maiores que 150 ou 200 metros da fonte. (Oliveira, E., 2001).
Entretanto, outro aditivo, oxigenado e largamente utilizado, o MTBE (éter metil terc-butílico) para diminuição da emissão de monóxido de carbono na combustão de motores a explosão, não se degrada e é potencialmente nocivo à saúde. No Brasil o MTBE foi substituído pelo etanol, álcool etílico anidro, cujos impactos nos aqüíferos ainda estão sendo estudados, principalmente no que se refere à sua interação com os BTEX, incrementando sua solubilidade e retardando sua atenuação natural.
A possibilidade de contaminação por hidrocarbonetos não se verifica apenas nos postos de serviço de distribuição de combustíveis, localizados principalmente na área urbana e ao longo das rodovias, mas também nas indústrias que utilizam combustíveis como fonte de energia ou para frota veicular própria, onde o desconhecimento de técnicas corretas no manejo dos diversos combustíveis podem agravar a situação.
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RT: Marcilio Tavares Nicolau - CREA MG 9877/D
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