Impactos Antrópicos
A água subterrânea e a Agricultura
O impacto das atividades agrícolas extensivas nas águas subterrâneas tem duplo aspecto: o quantitativo e o qualitativo. As alterações climáticas de caráter global, decorrentes das atividades antrópicas e a busca por maior produtividade nas plantações têm levado o agricultor a não mais acreditar na sazonalidade tradicional das condições meteorológicas para o plantio, buscando na irrigação a solução confiável para o bom resultado de seu investimento.
Nos Estados Unidos, a irrigação consome diariamente 518 milhões m3 de água, dos quais 215 milhões ou 41,6% provêm do subsolo. Este volume de água subterrânea corresponde a 67,3% de toda a água explotada dos aqüíferos (Hutson,S. et alli, 2004). Em vários países do mundo, a água subterrânea desempenha um papel importante na irrigação, em relação ao volume total empregado: 53% na Índia, 80% na Alemanha, 96% na Arábia Saudita, 61% na Tunísia, e 50% no Irã, (FAO, 2003).
A explotação excessiva de água para irrigação tem causado a depleção em caráter permanente do nível piezométrico de aqüíferos em vários países, além de proceder a lixiviação dos sais do solo, aumentando a salinidade das águas subterrâneas dos lençóis subjacentes às áreas irrigadas, que daí podem influenciar a qualidade de cursos d’água efluentes e afetando a biota aquática. A contenção dessas conseqüências passa obrigatoriamente pelo aumento da eficiência dos sistemas de irrigação: maior área irrigada com o menor volume de água, através da adoção de aspersores mais modernos, gotejamento, eliminação de perdas e vazamentos, etc.
A água é elemento importante no aumento da produtividade agrícola, mas nesse processo é suplementada pelo uso intensivo de nutrientes, pesticidas, fungicidas e herbicidas. A contaminação difusa causada por estes produtos é de difícil remediação, posto não haver uma fonte pontual que possa ser isolada ou contida.
Os fertilizantes inorgânicos manufaturados liberam compostos nitrogenados, principalmente nitratos, providos de alta mobilidade e persistência no ambiente, cujo comportamento é condicionado pela capacidade de redução e oxidação do ambiente, causado por fenômenos principalmente biológicos. Este processo de contaminação é facilitado pelo excesso de água infiltrada.
Os indícios de contaminação das águas subterrâneas pelos agrotóxicos nos países desenvolvidos remontam a quase quatro décadas atrás, mas apenas nesta última foram desenvolvidos os processos analíticos aptos á detecção de concentrações muito baixas destes compostos. A capacidade e a potencialidade de contaminação dos praguicidas em geral – e dos metabolitos resultantes de sua transformação – é determinada pela sua mobilidade, solubilidade, persistência, vida média, coeficiente de adsorção, condições de atenuação e hidrogeológicas do subsolo. Herbicidas como simazina antrazina, dalapon, e bentazon; fungicidas como o fosetil e inseticidas organofosforados sistêmicos estão entre os mais utilizados e perigosos.
Outros impactos negativos decorrentes do uso destes produtos são o transporte e estocagem, por vezes irresponsáveis e sem as necessárias precauções, além do descarte incorreto de embalagens vazias no meio ambiente. Em alguns países, o consumo específico de pesticidas em kg/ha está decrescendo, mais pela aplicação de substâncias de maior eficiência e que são utilizadas em menor quantidade, do que propriamente pela consciência da necessidade de redução e controle.
O prejuízo ambiental causado por estas substâncias é determinado não só pela quantidade utilizada, mas pela sua toxicidade. A capacidade de afetar o ser humano depende da quantidade ingerida uma só vez, da concentração e regularidade ao longo de períodos extensos, da periodicidade e da via de contato: oral, nasal, cutânea, etc.
A remediação de aqüíferos contaminados por pesticidas é uma operação demorada e cara: a Inglaterra gasta 100 milhões de dólares por ano e na Alemanha, por exemplo, para a concessionária de água em Munique, é mais barato pagar aos agricultores para que transformem suas propriedades em fazendas ecológicas do que investir em remediação de aqüíferos e tratamento da água captada (Gaia Movement, 2004).
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RT: Marcilio Tavares Nicolau - CREA MG 9877/D
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