Os lexicólogos, lingüistas e filólogos da língua portuguesa definem o adjetivo “subterrâneo” como o que fica, ocorre ou situa debaixo da terra. Nesta acepção estrita, qualquer água que se situe abaixo do nível do solo é uma água subterrânea.
Entretanto, uma água proveniente de chuva ou irrigação, ao se infiltrar em movimento descendente no solo através de sua superfície, preenche gradualmente os espaços intersticiais da formação geológica, saturando a faixa inferior dos solos e rochas, e fixando-se em vários horizontes.
A água infiltrada no solo, após um determinado tempo para se atingir uma situação de equilíbrio, se distribui de modo vertical, formando as seguintes zonas de umidade, conforme mostra a Figura 1 (Custodio, E. e Llamas, M.,1976):
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zona de saturação, a mais inferior, limitada superiormente pela superfície do lençol freático, sujeita à pressão atmosférica, e onde a água preenche todos os poros e interstícios da formação;
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zona de aeração ou zona vadosa, situada entre a superfície do lençol freático e a superfície do terreno, que compreende as seguintes subzonas:
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subzona de evapotranspiração, situada entre a superfície do terreno e o extremo inferior do sistema radicular da vegetação, com espessura variando normalmente entre 20 centímetros e 4 metros;
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subzona capilar, transição entre a zona saturada e a de aeração, situada no topo da zona saturada, com altura variável em função das forças capilares do subsolo;
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subzona intermediária, situada entre as duas subzonas acima citadas.
A água subterrânea é, portanto, aquela situada na zona de saturação, cuja espessura pode variar de alguns decímetros até centenas de metros, dependendo de fatores como a natureza geológica das formações do subsolo e suas propriedades hidrogeológicas. Ao contrário das subzonas de evapotranspiração e capilar, onde o movimento da água é comandado por forças eletroquímicas (capilaridade e adsorção), a água subterrânea move-se apenas sob o efeito da força gravitacional.
Figura 1 - As Zonas de Umidade
Assim, para o objetivo a que o presente estudo se propõe, toda água subterrânea é água do subsolo, mas nem toda a água do subsolo é água subterrânea.
A camada do subsolo que abriga esta zona saturada é denominada aqüífero, e sua capacidade de prover água para explotação está diretamente ligada à porosidade, medida pelo percentual de volume ocupado pelos vazios ou poros no volume da formação, e à permeabilidade, capacidade para transmitir a água e que depende do tamanho dos poros e da intercomunicação entre eles, determinando a velocidade da percolação.
Quando a formação é saturada e semipermeável, ela é denominada aqüitardo e caso seja delimitada no topo e/ou na base por camadas de maior permeabilidade, pode permitir uma percolação vertical designada drenança. Denomina-se aqüicludo uma formação saturada que é incapaz de transmitir água em condições naturais, como por exemplo, camadas impermeáveis de argila. E aqüífugo é a formação que não dispõe de poros ou interstícios interconectados, incapaz de absorver ou transmitir água, como um granito são.
Portanto, as águas existentes nos citados aqüíferos e passíveis de serem explotadas de forma econômica em regimes de operação prolongados, representam os recursos hídricos subterrâneos, parcela preponderante da água que a natureza oferece às necessidades do homem e de sua civilização.